Monday, November 27, 2006

A Rosa é obsoleta [inédito]

A rosa é obsoleta

mas cada pétala termina em um corte, a dupla faceta

acimentando as entalhadas

colunas de ar

O corte corta sem cortar

encontra--nada--renova

a si mesmo em metal ou porcelana

pra onde? para o fim--

Mas se há um fim

o começo principia

de modo que tramar rosas

torna-se uma geometria--

Mas nítida e bem-feita, mais cortante, uma figura em maiólica

o prato quebrado

envernizado com uma rosa

Em algum lugar o sentido

faz rosas de cobre

rosas de aço--

A rosa carregava o peso do amor

mas o amor está no fim--das rosas

É no corte das pétalas

que o amor aguarda

Franzido, trabalhado para derrotar

o peso--frágil

escalpelado, úmido, semi-ereto

frio, preciso, pungente

O que

O lugar entre o corte da pétala e o

Do corte da pétala uma linha

principia

que sendo de aço

infinitamente fina, infinitamente

rígida penetra

A Via Láctea

sem contato--se erguendo dela--nem pendurada

nem empurrando

A fragilidade da flor

intocada

penetra o espaço



--William Carlos Williams

[traduzido por M.D. Bandarra, em Março de 2004]

No comments: